Archive for ‘Sem categoria’

01/03/2016

A paisagem num dia algo nublado… no Bar Irreal

por cam

flyer_paisagem

14/04/2014

TEATRO O BANDO – 40 ANOS (1974-2014)

por cam

Em 15 de Novembro de 2001, em Vale de Barris, Palmela, o Teatro o bando estreou um espectáculo – “Vertigem” – com base no meu texto “Avesso” (escrito em 2000, por encomenda d’o bando) e em fixação de improvisações dos actores, incluindo ainda: um excerto de “Porque”, de Sophia de Melo Breyner Andresen, “Negro e Branco”, de Caetano Veloso e “O Keu Kero”, de Guilherme de Noronha. João Brites foi o responsável pela dramaturgia e encenação.

Interpretação de Ana Lúcia Palminha,Antónia TerrinhaJoana BrandãoGonçalo Amorim, Guilherme de Noronha, Paula Só e Ricardo Gageiro.

Fica esta informação para memória futura – e mais estas fotografias.

Vertigem06

Vertigem, a partir de texto de Carlos Alberto Machado e de improvisações dos actores. Teatro o bando, 2001. Na foto: Guilherme de Noronha, Antónia Terrinha, Paula Só e Ricardo Gageiro.

Vertigem04

Vertigem, a partir de texto de Carlos Alberto Machado e de improvisações dos actores. Teatro o bando, 2001. Na foto: Guilherme de Noronha, Ricardo Gageiro e Ana Lúcia Palminha.

Vertigem05

Vertigem, a partir de texto de Carlos Alberto Machado e de improvisações dos actores. Teatro o bando, 2001. Na foto (de frente): Ana Lúcia Palminha, Antónia Terrinha e Paula Só.

Vertigem02

Vertigem, a partir de texto de Carlos Alberto Machado e de improvisações dos actores. Teatro o bando, 2001. Na foto: Ana Lúcia Palminha e Paula Só.

Vertigem01

Vertigem, a partir de texto de Carlos Alberto Machado e de improvisações dos actores. Teatro o bando, 2001. Na foto: Ricardo Gageiro e Antónia Terrinha.

Vertigem03

Vertigem, a partir de texto de Carlos Alberto Machado e de improvisações dos actores. Teatro o bando, 2001. Na foto: Paula Só, Ana Lúcia Palminha, Joana Brandão, Guilherme de Noronha, Gonçalo Amorim e Ricardo Gageiro.

VERTIGEM Lúcia

Vertigem, a partir de texto de Carlos Alberto Machado e de improvisações dos actores. Teatro o bando, 2001. Na foto: Ana Lúcia Palminha

Vertigem Cartaz

Vertigem, a partir de texto de Carlos Alberto Machado e de improvisações dos actores. Teatro o bando, 2001. Na foto: Joana Brandão.

VERTIGEM Malas

Vertigem, a partir de texto de Carlos Alberto Machado e de improvisações dos actores. Teatro o bando, 2001.

 

10/04/2014

Coração quase branco

por cam

É no que dá um iogurte estragado: náusea repentina, vómitos disfarçados de arrotos, cólicas intestinais. Sanita comigo. E logo logo para a cama – a prevenir achaques maiores com a ajuda de uma infusão de macela e cidreira.
Aproveito a frouxidão inesperada do corpo e o repouso de meio da tarde para ler. Entre compras e ofertas recentes, decido-me pelo “Coração Quase Branco”, do António Cabrita – livro da 50 Kg (como habitualmente composta em caracteres móveis e com impressão a condizer), que o seu editor, o poeta Rui Azevedo Ribeiro, me tinha dado em Coimbra, no Mal Dito, meia dúzia de dias antes.
Cabrita Coração quase branco

read more »

06/03/2014

enfermaria 6 . caderno 1

por cam

enfermaria 6 . caderno 1

participações:

Bruno Alves
Carlos Alberto Machado
Catarina Barros
Catarina Costa
Fernando Guerreiro
Helena Bento
Hugo Milhanas Machado
Luís Ene
Margarida Vale de Gato
Maria Sousa
Paulo Kellerman
Paulo Rodrigues Ferreira
Pedro Bernardo Costa
Ricardo Domeneck
Samuel Filipe
Tatiana Faia
Samuel Beckett traduzido por Hugo Pinto Santos
Victor Gonçalves

Enfermaria 6 Caderno ICapa: João Alves Ferreira
Enfermaria 6, Lisboa, março de 2014, 68 pp.  5€
Para comprar: Na Fyodor Books. Ou envie-nos a sua encomenda para: enfermariaseis@gmail.com

05/03/2014

Autografia possível, em Coimbra

por cam

AUTOGRAFIA cam COIMBRA 2014

30/08/2013

O Gato lido no Brasil

por cam

UMA BREVE VISITA AO GATO VISITADOR, de Carlos Alberto Machado, por Wellitania Oliveira

Vinda do outro lado do mar chegou a minhas mãos uma caixa cheia de livros. No meio dos livros “O Gato Visitador”, não um gato qualquer, mas o gato que acompanha o poeta Carlos Alberto Machado. Um gato atrevido, de ideias formadas e, ao mesmo tempo, submisso à pena do poeta.

A escritora Roseana Kligerman Murray disse certa vez que “Gatos são poemas ambulantes”, por não entender muito de gatos, não percebi, no momento, o significado desta frase, mas ao ler os poemas de Machado, tive uma clarividência do que ela podia representar.

Não quero aqui explicar a poética de Carlos Alberto Machado, da mesma forma que ele (o poeta) também não tem por que justificar sua criação. Quando muito, podemos sentar à mesa com os amigos e teorizar, ou revelar aspectos e intenções implícitos em seu processo criativo. Por isso, atrevo-me a tecer alguns comentários sobre o gato acompanhante do referido autor.

read more »

16/08/2013

Ípsilon: crítica a Hipopótamos

por cam

untitled

Ípsilon, Sexta-Feira 16 de Agosto de 2013.

 

 

16/06/2013

LEITURAS EM DIA | Jorge Aguiar Oliveira :: Homens sem soutien. Poesia 1983-1999

por cam

Jorge Aguiar Oliveira_Homens sem soutienLEITURAS EM DIA | Jorge Aguiar Oliveira :: Homens sem soutien. Poesia 1983-1999

edição do autor, 2012.

BIOMBO PARA UM APRENDIZ DE SAMURAI

I

Na lâmina do sabre

o vento.

Uma sombra pintada

na tigela com arroz,

ao lado

dum gesto brando

dos pólenes do amanhecer.

Entre bambus um beija-flor

leva no bico um vidrinho

de saudade.

read more »

08/05/2013

Hipopótamos em Delagoa Bay

por cam

convite_hipopotamos-jpghipopótamos em delagoa bay_web

14/04/2013

Nævus

por cam

BAIÃO, ABYSMO – Gosto de livros também como objectos de arte. Muitas vezes um livro que me chega às mãos é olhado demoradamente, cheirado, acariciado, folheado de trás para a frente e de frente para trás. Depois repousa, antes de se deixar ler – o prazer final. Foi (é) assim com Nævus, do poeta Rui Baião (editora Abysmo, 2013. Gravura de Thierry Simões. Edição de 250 exemplares, numerados e assinados pelos autores. Venda exclusiva online).

«Pouco importa a ruína dos dias, / resinas, um nojo a vapor; / essas coisas tão botânicas… // De nada servem palavras / atadas a ferros, frases sem cal / ardida, páginas e páginas / de gritos à descoberta / de melhor medo.»

14/12/2012

Entrevista na rua de baixo

por cam

Nas Ilhas, o que não falta é boa companhia

Entrevista com Carlos Alberto Machado

A vida de Carlos Alberto Machado encontra-se, desde muito cedo, ligada ao mundo da cultura. Aos 15 anos já se dedicava à animação cultural e ao teatro, tendo mais tarde encenado alguns espetáculos, escritos por si ou em colaboração. Além de professor é autor de diversos livros, reunindo também uma participação dispersa por jornais e revistas, algumas das quais criou e dirigiu. Juntamente com Sara Santos fundou, em Maio do ano passado, a Companhia das Ilhas, que se dedica a editar livros e a um sem número de coisas.

Falámos com Carlos Machado, morador nas Lajes do Pico (Açores) desde 2005, para saber mais sobre esta (boa) Companhia. A partir de agora, e além do chá, das baleias e das paisagens de fazer o coração entrar em sobressalto, os livros – e os cadernos de notas – também passam a ser imagem de marca dos Açores.

Nas Ilhas, o que não falta é boa companhia

A Companhia das Ilhas parece assemelhar-se a um vasto universo que inclui escritores fantasmas, livros onde o humor corrosivo, a poesia e a ironia marcam presença, cursos de escrita ou uma loja que oferece magnéticos circulares, colecções de postais e blocos de notas, todos tendo os Açores como inspiração. Em quatro parágrafos gordos, o que é a Companhia das Ilhas e o que tem para oferecer?

A Companhia das Ilhas nasceu para prestar serviços e criar produtos em áreas que se complementam: imagem, escrita, impressão e edição. E com uma componente, que queríamos mais relevante, de assessoria de comunicação e cultura. O projecto editorial já fazia parte dos nossos propósitos iniciais, mas, em Maio de 2011, ainda não era sentido como premente. Trabalhámos, e trabalhamos, nessas áreas, e até procuramos que sejam mais produtivas, mas resolvemos, digamos, adiantar o projecto editorial – e é ele que tem tido, desde Junho deste ano, maior visibilidade. A edição de livros corre paralela com a criação e edição de materiais de merchandising cultural, tendo, apenas neste caso, uma vertente exclusivamente açoriana, para já.

Temos um particular gosto pelos livros, diria paixão, se a palavra e o que ela envolve não estivessem tão banalizadas, ao nível do lixo mediático. A Companhia das Ilhas-editora, no actual panorama da edição em Portugal tem afinidades com alguns outros projectos, tanto por razões de dimensão (micro, familiar) e independência (a todos os títulos), como pela sua política editorial, desalinhada de modas e que não tira senha para se pôr nas filas de grupos de gosto (e outros). A sua singularidade ancora-se na natureza da sua localização geográfica: a vila das Lajes do Pico (cerca de 300 habitantes), ilha do Pico (cerca de 15.000 habitantes) – mas não fazemos disto bandeira de nenhuma corrida ou festa. Nada impede o projecto de estar aberto ao mundo – antes pelo contrário.

As edições da Companhia das Ilhas são de pequeno formato e com reduzido número de páginas. Como não é um figurino, não precisou de costureiros. Os autores, os “géneros” e as colecções são escolhas de gosto pessoal (critério tão bom ou tão mau como qualquer outro). Articulam-se com a opção de editar “géneros” negligenciados por grande parte das editoras portuguesas – poesia, teatro, conto. Os preços baixos são uma opção complementar de política editorial e não um estratagema comercial (o que implicaria a subalternização de textos e de autores, como tantos por aí fazem). Esta política agiliza a edição e passa ao lado das máquinas (demasiado) bem oleadas do mainstream (e de algumas pretensas margens). Algures entre o panfleto, o artigo de revista e o “folhetim” está um livro Companhia das Ilhas.

A Companhia das Ilhas é ilha em muitos sentidos, mas uma ilha movente que deita âncora aqui e ali: livrarias (reais e virtuais), formas várias de distribuição e venda (mas atenta às perversidades do sistema e sempre pronta a zarpar para outras geografias menos tentaculares).

Nas Ilhas, o que não falta é boa companhia

Quais as principais motivações que levaram à sua criação?

Somos uma micro-empresa familiar. Fazemos agora com a Companhia das Ilhas aquilo que, em outros tempos e de outros modos, fizemos individualmente ou em colectivos.

Que balanço faz destes primeiros dezanove meses de vida?

Em 2012 editámos 11 títulos – 4 de poesia, 1 de teatro, 1 de crónicas e 5 de ficção, sendo dois destes de um género situado algures entre a micro-história e o aforismo – com quase 3.000 exemplares impressos, cerca de metade deles vendidos. Realizamos uma oficina de BD, ilustração e argumento. Prestámos alguma assessoria de comunicação, e coisas avulsas. Estamos contentes mas insatisfeitos.

Como é ter o coração da Companhia nos Açores? Isso dificulta de algum modo a forma de trabalhar e de estar no mercado editorial?

A Companhia das Ilhas é açoriana por circunstâncias complexas. Sempre que editamos autores açorianos, fazemo-lo porque gostamos desses autores (alertando para que sabemos diferenciar percursos, saberes e capacidades) e também porque gostamos de mostrar caminhos já feitos mas que têm a ganhar se forem vistos sob olhares renovados. Aqui, nos Açores, é obviamente uma vantagem editar temas e autores açorianos – a todos os níveis. Fora daqui, depende.

Nas Ilhas, o que não falta é boa companhia

Em termos literários, a Companhia das Ilhas oferece uma grande diversidade, como monólogos teatrais – “Bela Dona e Outros Monólogos”, de Pedro Eiras -, pensamentos fragmentados dedicados ao felino doméstico – “A Minha Gata”, de João Paulo Cotrim – ou um retrato do quotidiano através da poesia – “Às Vezes é um Insecto que faz Disparar o Alarme”, de Nuno Costa Santos”. Diria que apesar dessa diversidade há um fio condutor entre as obras? E como podemos destrinçá-lo – ou nomeá-lo?

Quando alguém que não conhecemos nos envia propostas de edição dos seus originais, respondemos invariavelmente que não fazemos julgamento de livros e de autores, não temos queda para juízos e juízes (“marajás”, parafraseando o Eduardo Lourenço). Somos de gostos fortes, de impulsos, intuições e de costela anarquista. Já lemos uns quantos livros, o que poderá ajudar. Há quem goste de se aconchegar aqui, outros não. É assim a vida.

Há uma colecção denominada “Terra Açoriana” e outra baptizada de “transeatlântico” – que gira à volta dos Açores, da África Lusófona e do Brasil -, para a qual estão em preparação três lançamentos de autores açorianos. Podemos ver a Companhia das Ilhas como uma rampa de lançamento para autores nascidos na Atlântida açoriana?

Temos também a “azulcobalto” – e vamos ter mais. A relação privilegiada com outros arquipélagos e com o dito mundo lusófono não resulta de uma colagem a um certo air du temps (tantas vezes de má consciência), mas é a efectivação de certas vivências e cumplicidades. Queremos ter com quem escreve uma relação franca, independentemente de geografias, etc. Se alguém desejar “rampas de lançamento”, tem todo o direito de o fazer.

Nas Ilhas, o que não falta é boa companhia

A par dos livros, a loja on-line da Companhia das Ilhas oferece objectos inspirados pelos Açores como as colecções de postais sobre as Festas do Espírito Santo ou a caça à baleia, os magnéticos com motivos da natureza e da cultura local ou os cadernos de notas que farão inveja a muito bom moleskine. Como têm sido olhados estes objectos pelo público e de que forma é importante esta componente comercial para a editora?

Os nossos cadernos de notas QuickTour (marca registada que fazemos em parceria com a Milideias) são um pequeno sucesso. Vamos trabalhar mais nesta área (por enquanto, apenas com referência aos Açores e à sua história e cultura).

O que nos vai trazer o ano de 2013 para a Companhia das Letras? Pode revelar-nos já alguns lançamentos futuros?

Temos muitos compromissos, alguns sem data. Se não surgir nenhum “tsunami”, editaremos em estreia absoluta um livro de poemas de Madalena C. Campos, outro do poeta Helder Moura Pereira, os moçambicanos Luís Carlos Patraquim, também com poemas, e, com estórias, o José Pinto de Sá. Os açorianos Urbano Bettencourt, poesia, Rogério Sousa, ficção. O brasileiro Luís Maffei, poesia. De Espanha (Canárias), poesia sobre Lisboa de Ricardo Pérez Piñero. Um texto teatral do Rui Pina Coelho. Uma nova colecção, “Viageiros”. E uma colecção sobre músicos açorianos, com direcção de José Manuel Bettencourt da Câmara, que se inicia com um volume dedicado a Francisco de Lacerda. E muita coisa sobre os museus açorianos.

Vive nas Lajes do Pico desde 2005. De que forma alterou essa mudança geográfica a sua forma de escrita e de relação com o mundo (humano e natural)?

Escrevo sem geografia (acho…). Mas os locais, as pessoas e tanto mais, aqui como em qualquer outro lugar no mundo, não me deixam muito optimista quanto ao futuro da humanidade. E gosto de crises.

É DAQUI

02/11/2012

COMO CALAR? COMO DIZER?

por cam

Nos idos de 1987 R. Lino foi antologiada na Sião – organizada por Al Berto, Paulo da Costa Domingos e Rui Baião, e editada pela frenesi – quatro poemas entre as páginas 178 e 180. A encabeçar os poemas, uma breve nota onde se informa os leitores que a poeta nasceu em Évora, em 1952, e tinha até então publicado três livros de poemas. Há dias, um amigo enviou-me : Predação : Urânia, nós e as musas, edição da autora, 2012. Pouco mais se diz dela na nota biográfica: um livro acrescentado aos outros, participações em revistas e antologias e uma meia dúzia de conjuntos de poemas por publicar. E que vive em Lisboa. Muitos dos antologiados em Sião não chegaram a ter poemas em livro, uns “desapareceram” de circulação” (mortos ou vivos) outros andam arredados das editoras mainstream de poesia (que las hay) e até das de “margem”. Na escrita portuguesa (poesia, ficção, ensaio & etc.) cavam-se permanentemente fossos entre os “velhos” e os “novos”, ao mesmo tempo que se montam panegíricos dos novos heróis, os novos génios que rapidamente são substituídos por outros. É uma espécie de “besteselerização” “pronta-a-deitar-fora”. Os mortos ou ignorados (ou ambas as coisas) amontoam-se em camadas de esquecimento. Na praça pública, o povo, unido, grita por cultura, que a não há e devia haver. Pois.

Venho dizendo por aqui que crítico é que não sou, embora lá vá descabelando palavras sobre os outros de quem gosto – espero que me perdoem, ou melhor, como não sou cristão, que esqueçam o que escrevo.

Em : Predação : “cruzam-se vozes dramáticas” – é a poeta que o diz nas “breves palavras” no final do livro. É verdade: no dialogismo (“jogos de réplicas”), no esboçar de figuras teatrais, nos “movimentos de esbatidas ou sobrepostas alteridades”, também na introdução de um coro. E há igualmente uma determinada performatividade, no sentido em que as palavras não estão lá “em vez de”, pelo contrário, o seu “sentido” constrói-se nas acções que elas mesmas implicam, no “actuar” mais do que no “representar”. Não é somente assim, claro, mas muito do que está escrito parece-me assim.

Cada poeta desenha um mundo próprio, com arcos, túneis, horizontes e hipóteses de luz para que dele nos abeiremos, não digo entrar, mas permanecer o maior tempo possível no instável espaço liminar que nos faz simultaneamente ser e não ser (ele, nós, o poema). Também poderia dizer: cada poeta se curva sobre si mesmo na igual medida em que desafia o outro supostamente dialogante. Ou ainda: que o poeta é a modulação do outro em si e o arco reflexo que vai de si para o outro. Como seja. A verdade é que é apenas com palavras que conseguimos aproximar-nos (predadores?) do outro, que é feito de palavras, o poeta – como se ele as pudesse escrever em nós, para nós. Podemos ficar aqui, nesta ilusão?

A poesia de R. Lino é de uma intensidade pouco habitual entre nós: provoca a queda, a perda, a falha. Por isso, não será de espantar que termine exactamente assim: “olhemos, agora, à nossa volta / e perguntemos:”

Aceito o desafio.

29/09/2012

Intempestivas (1-10)

por cam

1. A malta às vezes espanta-se. A malta às vezes indigna-se. A malta às vezes.

2. A malta é às vezes. De outras vezes a malta não é. De outras vezes.

3. De outras vezes é fezes. De outras vezes não fazes. De outras vezes as fezes fedem.

4. Nem tudo o que fede é peixe podre. Um peixe que fede é um peixe reprodutor. Um peixe que não fede é um católico old fashion. …

5. A Maria Teresa Horta papa prémios. Agora foi o D. Dinis. A Maria Teresa Horta não papa coelho. A Maria Teresa Horta só papa massas.
6. O Herberto Helder não papou o prémio Pessoa. O Herberto Helder não papou a massa. Descubra as sete diferenças. Tem o resto da vidinha.
7. “A morte saiu à rua num dia assim, naquele lugar sem nome para qualquer fim.” Qualquer semelhança é pura coincidência.
8. Desgosto quem escorraça o escritor que não leu nunca. Desgosto quem adula o escritor que não leu nunca. Desgosto quem não leu nunca. Desgosto quem finge.
9. Eles andem por aí. Ai, eles andem por aí. Eles são a praga viral das mentes mentecaptas.
10. O Papa sorri. O Papa não sorri. O pecador quer bula. O Tozé cabula. Tudo tem o seu preço. O do sorriso papal ronda um milhão de euros (directamente depositados no Banco Ambrosiano Veneto).
15/09/2012

Novidades Companhia das Ilhas

por cam

 Em Outubro nas livrarias as novidades editoriais Companhia das Ilhas:

UMA VIAGEM ROMÂNTICA A MOSCOVO, de Carlos Alberto Machado | Poesia inédita | colecção azulcobalto 004

Depois da reunião de poemas dos anos 2000-2006 em Registo civil (Assírio & Alvim, 2010), e das obras breves Por isso voltarei (2010) e Corpos (2011), Carlos Alberto Machado neste Uma viagem romântica a Moscovo aproxima-se de personagens e situações do “bairro”, sem abandonar os seus temas de sempre (a escrita, os corpos, a finitude).

EPHEMERAS, de Inês Lourenço | Micro-histórias inéditas | colecção azulcobalto 005

Colectânea de textos breves, que participam duma interface em que a prosa poética, a micro narrativa e a asserção mordaz, tonalidades reconhecíveis na obra poética de Inês Lourenço, se conjugam numa síntese outra.

A MINHA GATA, de João Paulo Cotrim | Aforismos | colecção azulcobalto 006 |  

Breve colecção de post its arrancados a um blogue diletante que se travestiu de caderno já no século XXI. A moral é breve: sem animais não saberíamos como ser.

O PAPEL DE PRATA, O REFLEXO E OUTROS CONTOS PELO MEIO, de Nuno Dempster | Contos inéditos | colecção azulcobalto 007

São 12 histórias curtas do poeta Nuno Dempster. O autor diversifica-se em assuntos que vão desde o hedonismo de um patrício romano ao destino de um casal de heroinómanos, revelando do homem não só uma visão irónica, às vezes próxima da derrisão, mas também de solidariedade e de exemplo do que é vertical, em que a ironia não cabe.

PICOLÂNDIA, de Manuel Tomás | Crónicas | colecção Terra Açoriana 001

Estas crónicas que apareceram inicialmente no semanário Ilha Maior ganham agora em livro novos sentidos. Momentos, acontecimentos, ideias – sempre com alguma ironia e riso à mistura.

07/09/2012

SE AO MENOS A POESIA

por cam

Nuno Dempster (Ponta Delgada, 1944) é um poeta com quem faço caminho. Dele li Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo (2011), K3 (2011), Uma Flor de Chuva (2011) e este Elegias de Cronos (Lisboa, Artefacto, 2012), a que agora me dedico. Tenho para ler ainda Londres (2010) e o volume maior Dispersão – Poesia Reunida (2008), que reúne tudo o que até essa data escreveu e não, como seria de esperar, o que editou, pois foi apenas nesse ano que publicou poemas em livro (mas originais seus apareceram antes em jornais e revistas e na Net). É um “poeta tardio” e disso ele não se arrepende, como diz na “Nota Final” de Dispersos: “(…) as escolhas que fiz foram aquelas que então me surgiram como apetecíveis e que ainda hoje me brilham na memória.” Não trago à liça este tópico por preciosismo biográfico, mas porque ele me parece bem pertinente neste último livro (mais do que nos outros lidos): a questão do passado, da memória e da necessidade que arrasta de um certo dizer, e da sua impossibilidade, e, naturalmente, a morte.

Em K3, Pedro e Inês, e Londres há, no todo de cada um deles, uma estrutura com indisfarçáveis contactos com a ficção narrativa – embora, claro, sem prescindir dos mecanismos próprios da poesia, em particular do seu ritmo e da sua sonoridade. Nestas Elegias de Cronos, embora de modo que é mais próprio a cada poema e não ao todo, essa característica não é de todo iludida, a que acresce outra, também presente nas obras citadas, que é o diálogo com o real envolvente, mesmo quando se procuram outros sentidos.

O passado (como tema), ou, precisando, o seu resgate, de que atrás falei, está bem sinalizado logo no primeiro poema (“Acaso”), afiliado com outra “presença temática”, a do desencontro amoroso, da falha: “(…) era tarde demais para eu saber / (…) e hoje penso no acaso sem remédio de cada um de nós guardar / o passado em gavetas separadas.” O poder da rememoração (de uma invenção de nós – a escrita), é porque “(…) é da brevidade que vivemos / da alegria que o instante gera / e deixa na memória”; no entanto, é longo “o hiato / em que nada regressa / e a memória se ausenta / e nos faz escrever sem objecto.” (“Chuva”) Num dos poemas mais fortes, “Imagem”, quase no fim do livro, num diálogo que o poeta aqui e ali mantém com uma não nomeada mulher, diz-lhe “Decerto não recordas que os poemas / emanam da memória: / é daí que a luz nasce / e as palavras se mudam em imagens / como na do teu rosto agora (…) // como é belo o teu rosto (…) // Já morríamos, quando um dia / me respondeste: «Não é isso / que o espelho me revela.» / E agora, que farei com essa imagem / a brilhar-me nos olhos? Elegias?” Sim, estas, provavelmente. Mas, no poema seguinte (“Quando os dias são acenos”), se possa desdizer (ou talvez não…): “Se ao menos a poesia fosse feita / de imagens tácteis, / se os meus olhos pudessem afagar / com a ponta dos dedos / a copa do pinheiro manso / como se fosses tu (…).

A morte, como veste bem à poesia, não por morbidez, mas porque, afinal, de que outra coisa é possível falar?, está em muitas destas elegias do tempo, como nesta, lapidar (“Defesa”): “Apetece-me só dizer / a morte afinal / virá como é costume dela. / Mas sendo isso verdade, / penso na hipocrisia de querer / ignorar as escadas / por onde descerei / para a cripta dos mortos.”