(…) apenas ressoava no que não foi dito somente onde já não chega a língua, onde ela ultrapassa os seus próprios limites terrenamente mortais e penetra no indizível e abandona a expressão da palavra e – cantando-se apenas a si própria na estrutura dos versos – rasga entre as palavras o abismo angustiante e sufocante dos segundos, para, em pressentimento da morte e abarcando ao vida, nessas mudas profundidades, mostrar, ela própria emudecida, a totalidade do universo, a simultaneidade fluente, em que repousa o eterno; oh meta de toda a poesia, esplendor da língua, quando ela, por sobre toda a informação e toda a descrição, se anula a si própria, oh, os momentos da língua em que ela mergulha na simultaneidade, de tal maneira que permanece incerto se é a memória que brota da língua, ou se é a língua que brota da memória.
Hermann Broch, A Morte de Virgílio