Posts tagged ‘Alex Gozblau’

27/04/2012

MÁ RAÇA

por cam

Em “Má raça. 22 canções”, desenhos de Alex Gozblau e poemas de João Paulo Cotrim (Abysmo, 2012), dá-se o acontecimento, de alguma rareza, das imagens desenhadas e palavras escritas entabularem variados diálogos, que tanto podem ser amistosos, de enfrentamento ou de relativo afastamento. Mas nenhum do trabalho é reflexo do outro (versão simplificadora que reduz o real a um congelamento impossível), e muito menos os desenhos são meras ilustrações (no sentido de tradução de uma linguagem para outra, de acréscimo de sentido a uma verdade prévia). O que parece haver é desdobramentos de sentidos de um universo que se dá (pela imagem e pela escrita) ao leitor – também ele convidado ao jogo da diversidade em movimento que o livro é. A haver espelho ele será poliédrico; espelhos mutantes – como a realidade escorregadia, deslizante. Falei em mutante e apercebo-me como esse termo pode de certo modo ser a marca do que neste livro se produz. Com efeito, os dois autores criam figuras e paisagens humanas que habitam zonas incriadas ou personagens que já deixaram de pertencer ao jogo de símbolos com que nos habituámos a olhar o mundo e a ter a confiança de o perceber. A palavra que parece pedir uma outra e logo se recusa a isso, numa suspensão ou na oferta de uma inesperada outra, mas numa lógica que não lhe é anterior mas que se faz ela própria nesse jogo ora suave ora abrupto de sentidos. Um bricolage feito não de restos mas de pedaços vivos de corpos vivos, bricolage estonteante que parece correr por vezes às cegas porque sabe que o corpo, os corpos, morrem mesmo. O bricolage reconstrói mas não ressuscita. Mas se isto é justo para as palavras (será?), é-o de igual modo para as imagens desenhadas. Nestas, na sua linguagem própria, o desacerto do mundo e daqueles que o habitam torna-se rigoroso, se assim se poderá dizer. Não há restos, nestas imagens, como se o desconcerto estivesse concertado. O terrível que quase deixa de o ser. Não gosto de comparações, mas não se pode deixar, creio, de evocar muita da literatura “negra”, ou a fotografia de autores como Witkin ou Francesca Woodman (sem esquecer as grandes diferenças entre eles).

A noite é a luz deste livro – noite a brilhar na noite, como sabem todos os seres que a habitam e que nunca conheceram o sol, ou dele já se esqueceram, porque sim ou porque não. Os corpos dançantes, inconstantes, roupas enxovalhadas, os líquidos que sem fim se ingerem, a música que se ouve e por vezes enlaça e morde os corpos, o amor que corta as almas, circo cantante, teatro fantasmático. A madrugada que dá a volta sobre si mesma para de novo ser noite, “cosendo lábios às coisas que se dizem / no viés da rotina.”

Resta dizer que este livro é, como todos os que o João Paulo tem feito nestes poucos meses de vida da Abysmo, um belo livro (e apetece dizer: terrível).

27/03/2012

LIVROS & COMPANHIA

por cam

Estive em Lisboa, onde participei no Dia da Poesia do CCB (leitura e exposição de manuscritos).  Voltei com livros de poesia: Poemas de despedida, vol. VII, seguido de 7 poemas, plaquette “doméstica” do Fernando Machado Silva, Resumo, a poesia em 2011, antologia (oferecida…) dos melhores de 2011 FNAC/Assírio, aliás, Documenta, de que gosto muito pois dela sou sistematicamente excluído, Rui Noronha (poemas gravados em CD), Má Raça, do Alex Gozblau e do João Paulo Cotrim, e 5 pequenos livros de Carlos Mota de Oliveira (edição de autor).

Na casa do correio tinha à minha espera as ofertas Câmara Escura. Uma antologia, da Inês Lourenço, e Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo e K3, ambos do Nuno Dempster.  Boas companhias, portanto.

13/03/2012

MÁ RAÇA, 2

por cam

O livro Má Raça (poemas de João Paulo Cotrim para ilustrações de Alex Gozlau), será lançado hoje, dia 13, às 22 horas, na 4A Fábrica (Rua João Anastácio Rosa, 4A, Lisboa – pode ver mais detalhes da edição aqui). Desta edição especial serão apenas publicados 25 exemplares de cada giclée (pássaro ou cão, em baixo), assinado e numerado.

09/03/2012

MÁ RAÇA

por cam